O desenvolvimento infantil é um processo multidimensional e é influenciado pelo ambiente social da criança, principalmente da família (BRONFENBRENNER, 1986). A família tem um papel importante por constituir o espaço de socialização mais imediato da criança e que determina as possibilidades de desenvolvimento de uma pessoa desde o começo da vida, o que a escola ou outras instituições não podem fazer (NUSSBAUM, 2000). No entanto, nas tentativas de avaliar o desenvolvimento infantil se negligencia o entendimento desse processo por dois motivos. Primeiro, devido a um problema de erro de medida do desenvolvimento infantil; e segundo, por desconsiderar o contexto familiar como determinante de um dado nível de desenvolvimento atingido por uma criança.
A primeira questão deve-se à ausência de uma medida singular que represente o desenvolvimento infantil. O desenvolvimento infantil é um assunto multidimensional e não é possível avaliá-lo somente pela realização de uma área em particular. Por exemplo, atingir um bom desempenho cognitivo não pode ser generalizado para considerar que as crianças apresentam um desenvolvimento pleno. Deve-se considerar, portanto, a inter-relação de um conjunto de dimensões estruturais definidas na infância e que sustenta o desenvolvimento humano posterior, como a dimensão cognitiva e socioemocional.
Apesar de se contar com métodos estatísticos e não estatísticos como a análise fatorial ou a agregação de indicadores para medir um construto não observável como o desenvolvimento infantil, estes não resolvem a questão de como é possível avalia-lo levando em conta o contexto familiar que foi responsável pelo nível atingido de desenvolvimento. A simples agregação de indicadores para representar o desenvolvimento infantil estaria considerando só uma análise no nível dos resultados finais das crianças e não se estaria levando em conta o processo social em meio da família que condiciona esses resultados.
Uma crítica à Abordagem das Capacitações tem sido a prioridade no estudo de capacitações individuais e à autonomia (agência), assim como a participação do Estado nesse objetivo. Não entanto, pouca atenção tem sido dada à relação da família no processo de formação de funcionamentos e capacitações humanas.
Assim, de modo geral, este artigo propõe-se avaliar o desenvolvimento infantil do Chile desde uma perspectiva multidimensional, levando em conta dimensões como a cognitiva, socioemocional e físico-motora e, ao mesmo tempo, considerando a influência das características da família, tanto as estruturais (como fatores demográficos e socioeconômicos) como as de dinâmicas internas associada ao grau de sensibilidade e práticas de envolvimento parental. Para esse objetivo, aplica-se o modelo “Multiple Indicator Multiple Causes – MIMIC” que faz parte dos Modelos de Equações Estruturais (SEM).
Este artigo baseia-se na interseção de elementos teóricos providos tanto pela psicologia sobre aspectos constitutivos do desenvolvimento infantil, como argumentos teóricos da Abordagem das Capacitações (AC) na definição do desenvolvimento e bem-estar humano. Sobre esta abordagem discute-se sua visão de família e seu papel no desenvolvimento humano. Também se tenta em parte superar (empiricamente) críticas a essa abordagem com respeito ao fato de desconsiderar nas avaliações do bem-estar as estruturas sociais determinantes do processo de desenvolvimento humano, como pode ser a família.